- Por que está tão irritada assim com sua mãe Princesa?
- Ah! Rainha. Tanta trabalheira. Foi comer e deixou cair a comida. Depois, esqueceu de amarrar os sapatos e caiu de joelhos ferindo-se.
- Por isso, então. Sabe, eu me lembro de quando você era pequena e cometia os mesmos erros. E ela, sua mãe, a ensinava com tanto carinho. Foram tantas as vezes, tantas horas de dedicação até você aprender...
- Estou mesmo sem paciência. Tento explicar, e ao conversar comigo ela repete a mesma história de sempre, que já sei de cor como termina.
- Interessante. Quando você era pequena, ela tinha que lhe contar a mesma história, diversas vezes, até teu sono chegar e você adormecer.
- Sabe o que ela fez hoje logo depois de almoçarmos? Fez as necessidades na roupa, pois já não consegue mais controlar-se. Fiquei penalizada!
- Penalizada? Pois saiba que não era esse o sentimento que no coração de sua mãe pairava quando te ajudava e pacientemente ficava ao teu lado esperando que você terminasse o que estava fazendo.
- O pior Rainha, é que ela se recusa a tomar banho completo. Diz que lavar-se apenas é o bastante. Tenho que ficar brava e gritar para que ela me atenda.
- Disso eu também me lembro. Dela correndo pelo Reino ao teu encalço, e dos mil pretextos que inventava para tornar mais agradável a hora de teu banho. Parece-me que agora a criança é ela.
- Criança? Nem isso... Tento ensinar-lhe a usar o computador para preencher seu tempo, e ela fica me olhando atônita e desamparada, dizendo que não consegue entender todas as parafernálias tecnológicas que inventaram. Me irrita ter que ficar repetindo tantas vezes a mesma coisa para que ela aprenda.
- Você é realmente uma Princesa preparada querida. Mas seria bom lembrar-se que quem lhe ensinou a comer e vestir, quem lhe possibilitou enfrentar este viver tão bem como faz, foi ela.
Tuas vitórias são produtos de seu esforço e perseverança, o que ela fez com todo amor.
- E eu também a amo Rainha Menina. Muito. Acho que estou brava porque ela só fala em morrer...
- Entendo querida. Vou te contar uma conversa que tive com ela em um desses dias a este respeito. Disse ela a mim:
"- Algumas vezes ao conversar com minha filha esqueço sobre o que estávamos falando. Ela zomba de mim, não me dando tempo para me lembrar. Se esqueço é porque talvez não seja importante, pois o que eu precisava naquele momento era que ela me escutasse. Algumas vezes não quero comer e ela se irrita e insiste. Sei quando posso e quando devo comer. E ela não compreende que já não tenho dentes para comer nem paladar para saborear.
- Sabe Rainha, finalizou dizendo, eu não vivo, apenas sobrevivo. Sempre quis o melhor para a minha filha, e preparei a rota que ela deveria percorrer. Agora, o que quero é dar mais este passo, e estarei construindo para ela uma outra rota, em um outro Tempo."
- É disso que falo Rainha. Da dor que sinto ao ouvi-la falar que quer me deixar.
- Entendo querida. Porém, tua maneira de reagir aos fatos está errada e causando muito sofrimento. Faça como ela fez quando você começou teu viver, com amor e compreensão com que ela acompanhou teu caminho. Dê-lhe amor e paciência e a acompanhe até ela terminar o dela. Se assim o fizer receberá sorrisos de gratidão, coroados pelo imenso amor que ela tem por você.
Walkyria Garcia
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